quarta-feira, 30 de abril de 2014

Quando sua vida começa a parecer um filme, você começa a parecer um babaca

    [Encontrei esse rascunho de 2013 e achei muito legal, publicando pra arquivar:]
   Apesar de um título teoricamente cômico, o tema desta crônica não é exatamente engraçado.
    Eu ando meio melancólico e reflexivo, cada vez mais pensando em quem sou eu sob cada ponto de vista, sobre como será que seria conviver comigo. 
   A maioria dos valores éticos que aprendi com os filmes infantis eu estou abandonando. Não que eu me orgulhe disso, apesar de clichê, é totalmente razoável ter a aceitação da derrota e a amizade como princípios, porém eu venho cada vez mais parecendo com os vilões das animações.
  Esse último parágrafo foi só para dizer que eu acho extremamente importante como somos vistos pelos outros. Não é uma questão de status, mas eu vivo em coletivo e se mala for meu jeito de ser, eu vou ter que mudar posto que não estou sozinho.
    Tudo que veio até agora, foi para te contextualizar. 

terça-feira, 29 de abril de 2014

Unidos contra a salada

    Olha, eu não sei se todos os meus "leitores assíduos" perceberam, mas eu pertenço a uma leva de pivetes que foram encarregados pelo colégio a escrever blogs de crônicas. É, sem dúvidas, um projeto interessante, posto que dá asas aos nossos textos que normalmente ficariam presos em sala de aula. No blog de nossa professora de português, Luana, há os links dos blogs de todos os meus colegas, de tal sorte que eu consigo ler alguns textos bem bacanas escritos pelos meus amigos.
    Mas o que de fato me intrigou foi o movimento anti-salada, ou anti-verduras. A quantidade de gente na minha classe que tem pavor e luta contra a alimentação à base de planta, não é tão pequena. Abaixo cito duas críticas feitas por colegas diferentes a respeito da comida:
    E além desses que escreveram sobre, também há gente que reclame da salada ser a primeira coisa servida nos restaurantes por quilo e da textura do tomate.
    Gente, salada é um negócio bom, compreende? não é nenhum bicho-de-sete-cabeças. Alface, por exemplo, tem gosto do tempero que você colocar.
    Eu venho fazer o papel do advogado de defesa, e digo: meu cliente é inocente e alem de tudo tem gosto bom. Enquanto não houverem provas contra comer folha, nada será feito ao meu cliente! Tenho dito!
    O problema para mim em defender essa história de comer vegetal, é que meu irmão é vegetariano. Legal. Defende os animais, acredita na sustentabilidade. Belas causas, não? NÃO. Agora em casa só se come grãos e cenoura. Grão e cenoura, grão e cenoura, grão e cenoura, grão e cenoura, grão e cenoura, grão... Ainda tem um tomate cereja, um queijinho (é, meu irmão come ovo, leite e derivados, mel, cogumelos e plantas) e não é que cenoura seja de todo mal mas também tudo tem sua dose. 
    Dos grãos, o pior é quinoa. Você sabe o que é quinoa? Quinoa é um grão que pode ter três cores diferentes, faz bem pra caramba e um tantinho assim com tomate fica delícia, porém convenhamos, ninguém merece. Desse jeito as vaquinhas e os porquinhos é que vão ficar com pena do meu irmão. 
     Só o que eu consigo pensar em relação aos meus amigos que não comem folha, é que é um pouco de frescura. Não vale o mesmo para meu irmão porque o vegetarianismo é uma questão ideológica e estabelece os animais como “não-comida”.
     Eu mesmo tenho ficado cada vez mais "frescurento" para comer, mas acho que deveríamos agradecer por termos comida no prato. É um hábito no Japão dizer "itadakimasu" antes da refeição e "gochisousama" depois, que são gestos de gratidão à comida. 
    Parece que de alguma forma eu sucumbi aos meus colegas no movimento de defesa dos legumes e verduras.

"Alface também é gente. Não coma alface!"

domingo, 20 de abril de 2014

Mistérios da vida

“Problemas com o carregador do celular:
Ok. É um problema burguês pacas, só uma pequena tarefa, mas me intriga.”
     Já diziam os antigos, “eu não acredito e bruxas, mas que elas existem, existem” (coerência mandou abraços). Essas bruxas, mais me parecem uma espécie de efeito colateral de remédio. Aquele remédio que você esquece onde guardou e quando acha, ele já não tem o mesmo nome (coerência mandou abraços).
     Aquelas coisas banais que, (sobre)naturalmente mudam ou “fazem puf” quando mais precisamos delas. É um pouco da vida do “cidadão comum nos parâmetros do povo” perder as coisas de vez em quando. São essas coisas pequenas que intrigam a nossa vida, que fazem-na parecer um pouco com um filme de mistério.
     A gente anda, olha pro céu, é tudo tão banal. Sair de casa numa manhã de sábado. Ver tantos rostos e nenhuma face. Atravessar a rua e pensar “sobrevivi”. Saber que chegará em casa e vai encontrar todo mundo. Ter medo do impossível e tentar se consolar com a racionalidade.
     ‘Tá bom. Falei disso tudo como algo mais ou menos ruim, mas não é. Uma vez me contaram sobre um filme japonês, “A rotina tem seu encanto” de Yasujiro Ozu. Essas palavras fazem de mim uma pessoa mais feliz e, convenhamos, é um título fascinante.
     Eu também poderia falar “todo dia ela faz tudo sempre igual”, mas meu bom senso/advogado me diz que isso não é meu.

     Meu carregador de celular é prova concreta dessa história de perder e sobrenaturalidade natural, posto que ele ora é assim, ora assado (coerência mandou abraços) e eu? Levo na boa. A verdade é que logo eu descubro que haviam dois carregadores afinal e com isso a gente pensa ter chegado ao fim de um filme de mistério meio banal.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Morte e Vida Jegue

“O meu nome é Jegue,
Como não tenho outro de pia.
Como há muitos jegues,
Que é praga na sesmaria,
Deram então de me colocar
Pra fora da Paraíba[...]”
         
     *cof-cof*- abre parênteses: Olha, eu vou contar uma história que não é de hoje e que já foi contada antes. Inclusive, se eu quisesse, eu poderia ter chamado essa crônica de “A saga do jegue” ou “A odisseia do jegue no sertão”, mas eu preferi valorizar minha auto-estima, daí ficou assim.- Fecha parênteses.
     Começando pelo meio, um tempo atrás, o jegue foi à decadência no sertão. Exato, o jegue, o animal cargueiro ícone do nordeste foi substituído por jipes, tratores e motos. Consequentemente, o Jegue foi ao ostracismo depois de expulso dos sítios e fazendas. À paisana, os ditos jumentos ficaram pastando no meio das estradas em uma deriva absoluta.
     Para os homo sapiens? Ótimo (sem ironia) ...(mesmo). Agora  a força de trabalho era mais eficiente, mais rápida, não dormia, nem ficava doente e sequer comia. Por mais que para os “metropolitaneses”, que não passam mais de um mês nos in-interiores do sertão, pareça uma perda de patrimônio histórico, o progresso chegando (atrasado) às periferias do país, vem facilitando a vida dos habitantes da região.
     Logo mais, com incidências de atropelamentos de asnos, começou um programa de expulsão dos jegues no sertão em que você ganhava uma mixaria para tirar um do estado. Um ou outro larápio, tiveram a brilhante ideia de colocar uma mula potiguar, alguns jumentos paraibanos, tantos burros pernambucanos e mais todo tipo de bicho que zurra dentro de uma carreta e vagar de estado em estado para ganhar uns trocos.
     Visto que eram quase moeda de troca, os jegues de vanguarda começaram um movimento em prol dos direitos do animal cargueiro. Não foi difícil induzir as massas a se unirem para começar uma revolução que ficou conhecida nos interiores como Movimento dos Cargueiros Excomungados (MCE). Não tardou que, com o término de sua produção, as combis se unissem ao MCE em suas marchas e saques pelo nordeste brasileiro.

     Por isso é correto dizer: os jegues vem fazendo história nos últimos anos e quem se deixar alienar, fica pra trás.

terça-feira, 25 de março de 2014

A Presa

      Nítido. Em meus olhos a presa estava nítida. Somente a presa. De resto, tudo era turvo, invisível, claro demais, escuro demais. Eu a queria, a presa. Queria-a em minha mãos, em minha boca, em minha posse! Eu estava louco pela presa, era uma fome que queria sentir, uma sede que não queria ser bebida, uma vontade insaciável de te-la em mim. Fome. Estava faminto. Eu não conseguia parar de olhar para a presa, já ela, nem me notava. Isso é bom? De fato seria fundamental uma presa displicente para o sucesso na caçada, porém, minha vontade de ter aquela presa estava além do âmbito da caçada, não seria perfeito se fosse fácil pegá-la.
      Ahhhh!! Coma a quero, como quero a presa. Minha sede de predador é tão confortável, mas ainda assim eu quero saciá-la.
A presa estava imóvel, tão fácil, minha consciência dizia para não pegá-la, mas havia algo mais forte que eu, uma besta que reside até no coração do mais puro dos seres, em mim, agora estava solta. Esqueça toda a racionalidade. Meus sentidos estavam a flor da pele, o instinto tomou o controle das minhas ações. 
      No deserto. A presa e eu estávamos no deserto. Não havia nada visível em volta, só uma grande amplidão. Como eu preciso dessa presa que me corrompe, me corrói, me perverte. Quero-a dentro de mim, ao meu redor, envolta no meu semblante, ou nos meus braços.
Que fome insana.
      Estávamos em um apartamento alugado. Um apartamento deserto. Pilhas de livros para todos os lados, um rádio de pilha, eu e a presa. Presa. Presença. Aquele apartamento estava repleto de ausências.
      Eu queria saber mais sobre a presa, sobre MINHA presa, mas ela estava calada, imóvel, e virada para o outro lado. Que tristeza! Por que tinha que ser assim? Eu queria controlar a presa. Queria alcançá-la.
Eu não aguentava de sede, de fome, de vontade, de falta.

Avancei.

      A cada passo que eu dava em sua direção, eu me afastava dois. Que desespero!
Ela se curvou e pude ver sua face.
Agora, era a Presa.


domingo, 23 de março de 2014

O Caso do Rábula Beberrão Celso Ferraz




    Venho falar de uma história que se você tiver a má vontade de pesquisar no google, vão aparecer muitos resultados de pessoas que escreveram sobre isso melhor, e antes de mim e para não parecer que é plagio cito aqui alguém que já escreveu sobre plagiar.
     Talvez se eu falar disso agora fique meio repetitivo... Mas o fato é que realmente é uma história muito delicada e interessante que merece oitocentas e trinta e UMA versões.
    - Mas essa história já têm oitocentas e trinta e uma versões.
Como sempre, aparece onde não é chamado, um interlocutor impertinente  para pentelhar.
Sem mais delongas, na minha versão, a história se passa na Bahia no começo do século passado, mesmo ambiente em que se passam algumas obras do Jorge Amado. Mas se algumas obras do Jorge Amado se passam nesse ambiente, ninguém vai ler algumas obras MINHAS que se passam nesse ambiente.
A verdade é que eu to enchendo linguiça para não botar mais água no feijão e que não tem o menor sentido escrever se ninguém vai querer ler, por que sem o interlocutor impertinente que vem interpretar, a arte fica pela metade. Quem vai me provar que a história já estava no livro antes dele ser aberto?
O que eu tô fazendo aqui? Teoricamente eu vim contar uma história, mas todo mudo já foi embora, mas eu tenho orgulho, então eu converso com o dono do bar, mas ele não demonstra estar interessado, mas lá fora está chovendo e é melhor não sair, mas aqui dentro 'tá abafado pra burro, mas pelo menos não me deixa gripado, mas eu não comi nada que me fizesse bem, mas tava bom e é isso que importa, mas saiu caro e o dono do bar está me estranhando, mas eu finjo que não é comigo e por baixo do balcão eu vejo se tem dinheiro na minha carteira. Não tem, mas ele aceita cartão, mas acabou a luz e para passar o tempo eu conto minha historia para dono do bar.

"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.[...]"-Marina Colassanti